Derrite anistiou 65 policiais com alta letalidade

15 Maio 2024 | 2min de leitura

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É público que, desde julho do ano passado, quando o soldado Patrick Bastos Reis foi assassinado no litoral paulista, a Polícia Militar de São Paulo deflagrou uma revanche que matou 84 pessoas até agora. O aspecto menos conhecido é que, desde então, estão empacadas as investigações que sempre acontecem quando um policial se envolve numa operação letal. As Comissões de Mitigação de Riscos foram abertas, mas não saíram do papel, e todos os policiais envolvidos nas ações com morte seguiram nas ruas, sem a tradicional suspensão temporária. Os inquéritos policiais militares (IPMs) chegaram a ser instaurados, mas o trabalho foi tão malfeito que a Justiça Militar, dos 28 inquéritos que recebeu, mandou devolver dezoito, pedindo que fossem refeitos.

A Corregedoria da PM se encarregaria de refazer os inquéritos, mas, dias depois, o chefe do órgão, coronel Edson Luís Simeira, foi afastado do cargo e substituído por Fábio Sérgio do Amaral, responsável pelo Comando do Policiamento de Choque, que atuou na matança que deverá agora investigar. Depois da saída de Simeira do comando da Corregedoria, também foi removido o chefe do setor de inquéritos, o tenente-coronel Fabiano Batista do Prado. Até agora, os IPMs não foram refeitos.

Uma reportagem publicada na edição de maio da piauí, de autoria de João Batista Jr., conta que, desde que assumiu a secretaria de Segurança, em janeiro de 2023, Derrite deu sinais de que pretendia afrouxar os controles internos da Polícia Militar. Antes de completar um mês no cargo, defendeu a ação de uma patrulha da Rota que disparou 28 vezes contra um Honda Fit, sob a justificativa de que seus três ocupantes iriam fazer um assalto na região central de São Paulo. Comprovou-se mais tarde por meio de uma câmera de tevê de uma estação do metrô que na operação um policial plantou uma arma ao lado de um cadáver para simular que houve confronto.

No segundo mês no cargo, Derrite cancelou a punição contra quinze agentes da Rota, a tropa de elite da PM, em razão do alto índice de mortalidade. Em fevereiro passado, fez outro movimento no mesmo sentido: perdoou cerca de cinquenta policiais militares que estavam afastados do serviço de rua também devido à alta letalidade. Os anistiados trabalham em diferentes cidades paulistas. Derrite colocou todos de volta às ruas, atropelando o trabalho da Corregedoria em casos que remontavam a 2018.

A piauí também teve acesso a um apanhado de 28 boletins de ocorrência, lavrados do início da matança no litoral paulista até o mês de março. Em apenas um B.O. há informação de que os policiais estavam usando câmeras nos seus uniformes. Os demais nem mencionam o assunto ou, quando o fazem, é para dizer que ninguém estava equipado com o dispositivo. Em 2019, a PM paulista matou 697 pessoas. Em 2022, quando dezenas de batalhões já estavam usando câmeras corporais, o índice de letalidade desabou: 260 mortos.

A íntegra da reportagem pode ser lida pelos assinantes da piauí neste link.