O que é dorama, produto asiático que virou sensação no Brasil

20 Maio 2024 | 6min de leitura

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Com relacionamentos sendo construídos em um ritmo lento, a pausa entre o casal para testar o amor, a demora no primeiro beijo e a cena típica em que os dois estão no mesmo lugar, mas não se veem, os doramas vêm conquistando fãs no Brasil.

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As produções podem até ter gêneros e temas diversos, mas é o romance que atrai as “dorameiras”.

“As cenas românticas possuem longos minutos até que o casal protagonista dê o primeiro beijo, tem corte de câmera individual, close nos olhos e nas mãos e isso vai gerando uma tensão e aflição. Você imagina que o beijo não vai rolar porque alguém vai atrapalhar. Eles trabalham muito com o emocional do telespectador, com a expectativa e quebra dela”, comenta a jornalista Ruth Flores, dorameira declarada.

Afinal, o que significa dorama?

A expressão dorama vem da palavra “drama” em japonês e se refere a filmes e séries produzidos na Coreia do Sul, China, Tailândia e no próprio Japão. Entretanto, apesar de ter viralizado como dorama, cada drama de televisão tem o seu próprio termo, por exemplo, K-drama na Coreia do Sul, TW-drama em Taiwan, C-drama na China e Thai-drama ou Lakorn na Tailândia, adquirindo características e marcas culturais próprias de cada território.

Bianca Alencar, dubladora do dorama "Meu Demônio Favorito" em que fez a Do Do Hee para a Netflix, acredita que a narrativa contada de forma “inocente”, com poucos personagens, desenvolve melhor a história de cada um deles e atrai a atenção do público.

"A forma que as histórias são contadas são inusitadas. Eles [asiáticos] utilizam, principalmente, no quesito relacionamentos, abordagens mais inocentes. O fato de as coisas parecerem mais leves faz com que a produção seja popular entre jovens e até idosos [no Brasil]", diz.

De acordo com Alexandre Battel, ator e diretor do Grupo de Teatro O Fi’los, os doramas são adaptados às necessidades e preferências do público de cada país, muito embora tenham estruturas dramáticas semelhantes.

"No Japão, as histórias tendem a ser mais realistas, possivelmente refletindo o estilo de vida da população local. Os temas familiares são frequentemente explorados, e apesar do excelente trabalho artístico, os atores japoneses se destacam pelo seu desempenho. Já na China, eles costumam abordar temas mais leves, incluindo histórias de mistério e fantasia, explorando o aspecto lúdico com uma narrativa mais pausada", explica o diretor.

Além disso, em K-dramas a participação de idols (cantores de bandas coreanas famosas) contribui com o despertar do interesse do público. É comum que cantores coreanos estejam em papéis de destaque em K-dramas como True Beauty (Netflix), que conta com a participação do idol Cha Eun Woo, do grupo de K-Pop Astro, e o drama Sorriso Real (Netflix), que tem como protagonistas os artistas Yoona (Girls’ Generation) e Junho (2PM).

Sucesso no Brasil

Os dramas coreanos estão ganhando o coração dos brasileiros cada vez mais. De acordo com dados do governo da Coreia do Sul acessados pelo Box Brazil Media Group, em 2022 o Brasil foi o quinto país que mais consumiu séries coreanas. Além disso, um ou mais títulos coreanos estiveram no Top 10 da Netflix em pelo menos um dos países latino-americanos.

Segundo o serviço de streaming, foram 44 títulos coreanos, de nove gêneros diferentes, chegando ao ranking de ao menos um país da América Latina em 2023. Os gêneros mais populares foram drama, romance e ação. No Brasil alguns desses títulos foram Alquimia das Almas (drama/romance), Sorriso Real (comédia romântica), Black Knight (ficção-científica), Kill Boksoon (ação), a Palma da Mão (suspense) e Beleza Verdadeira (comédia/teen).

Maurício Felício, professor de Comunicação e Publicidade da ESPM, explica que o Brasil tem um forte histórico de imigração, o que permite que o país seja mais receptivo culturalmente a produtos culturais. Além disso, para o professor, o que mais desperta a atenção do brasileiro é o aspecto cultural e o deslocamento do protagonista diferente do esperado por ocidentais, fugindo de um roteiro comum das produções de Hollywood e da Europa.

"No Ocidente, os personagens principais precisam ser os principais tomadores de decisão, o herói que está lutando contra as condições. Já em produtos culturais japoneses e coreanos, principalmente, estamos olhando para heróis e anti-heróis, muitas vezes sem ter um vilão determinado, uma vez que as condições do grupo e da cultura são, em si, um grande personagem", diz.

Para Battel, o "hábito brasileiro de acompanhar novelas, com o grande teor emocional" é o que chama atenção de todas as idades. "O tema nos tocou e esse é o caminho para que os doramas tenham se popularizado no Brasil. Tudo é pensado para tocar o espectador, tornando-nos cúmplices das personagens", acrescenta.

Não só o mundo dos doramas estão crescendo, mas a Hallyu (popularmente conhecida como onda coreana) tem tomado conta de diversos espaços, como a indústria da beleza, da música, da gastronomia e da literatura, de acordo com Adriano Portela, diretor, escritor e roteirista. "A cultura brasileira em geral é diversa. É feito de misturas de culturas e hábitos, de inclusão e novidades. Com a ascensão dos doramas, os hábitos e a própria forma de enxergar o mundo tem evoluído", acrescenta.

"São enormes as comunidades fãs de animes, de grupos de k-pop, de dramas de TV em todo mundo. No Brasil, essas comunidades não estão presentes só no ambiente digital e elas, inclusive, se entrelaçam. É muito comum ver encontros de fãs de anime que trazem, na programação, atividades relacionadas ao k-pop, por exemplo. Ao incorporar esses elementos ao nosso dia a dia e vivenciá-los de maneira ativa, já estamos os inserindo em nossa cultura como brasileiros", explica Júlia Garcia, mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Em 2023, a HBO Max lançou a primeira série brasileira inspirada nas produções sul-coreanas. "Além do Guarda-Roupa" aborda a história de uma típica adolescente paulista, descendente de coreanos, que descobre um portal em seu armário que está conectado à Coreia do Sul. A produção original da série mistura coreanos e brasileiros em um elenco internacional, unindo as duas culturas.

Para 2024, a Netflix divulgou que irá investir em conteúdos coreanos em seu catálogo, lançando 31 títulos mesclando entre séries, filmes e reality show. Está previsto lançamento de nomes conhecidos como a segunda temporada de Round 6, a terceira temporada de Sweet Home e a segunda temporada de A Criatura de Gyeongseong.

Veja abaixo os 31 títulos que devem ser lançados pela Netflix em 2024

  • A Herdeira
  • Em Ruínas
  • Reino da Conquista
  • A Killer Paradox
  • Só para Adultos: Países Baixos e Alemanha
  • Médicos em Colapso
  • Meu Nome é Loh Kiwan
  • Rainha das Lágrimas
  • Chicken Nugget
  • A Batalha dos 100: Temporada 2 – Desafio Subterrâneo
  • The 8 Show
  • Parasyte: The Grey
  • Agents of Mystery
  • Super-Ricos na Coreia
  • Sweet Home: Temporada 3
  • Resident Playbook (título provisório)
  • Hierarchy
  • A Criatura de Gyeongseong: Temporada 2
  • Batalha de Influencers
  • Turbilhão
  • O Agente Faixa-Preta
  • Unknown Chefs (título provisório)
  • Quando Ninguém Vê
  • Mr. Plankton
  • A Grande Inundação
  • Solteiros, Ilhados e Desesperados: Temporada 4
  • Uprising
  • Zumbiverso: Temporada 2
  • Profecia do Inferno: Temporada 2
  • The Trunk
  • Round 6: Temporada 2