Pesquisa inédita mostra que mais da metade dos brasileiros já foi assaltada; maioria vê piora na segurança

Marlen Couto 15 Maio 2024 | 4min de leitura

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Tema que é considerado um dos mais sensíveis para o governo Lula (PT), a ponto de avaliar a criação de um ministério específico para o setor, a segurança pública é um problema que amedronta cada vez mais a população, segundo uma pesquisa inédita da Quaest em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais. O levantamento mostrou que mais da metade dos brasileiros (51%) afirma já ter sido assaltada, furtada ou roubada ao menos uma vez na vida. O índice salta para 85% quando os entrevistados são perguntados se conhecem alguém que foi vítima desses crimes.

O levantamento aponta que a sensação de insegurança cresceu na avaliação da população. Oito em cada dez brasileiros veem agravamento da violência no país em 12 meses — período que coincide com as posses dos governadores e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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A mesma fatia (81%) avalia que a segurança pública e o crime organizado são problemas nacionais e as facções têm ganhado força (83%). A pesquisa ouviu presencialmente 2.007 moradores de todas as regiões, entre 10 e 16 de novembro, e tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte
Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte

Quando considerada a distribuição geográfica, a exposição a roubos e furtos é ainda maior no Norte, em que são 72% os que já foram vitimizados. Já a percepção de piora da violência, predominante em todas as regiões, varia de 83% no Sul e 81% no Sudeste a 69% no Centro-Oeste.

A sensação de que a criminalidade avançou é alta tanto entre eleitores de Lula quanto entre os do ex-presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022, embora seja maior no segundo grupo (71% a 88%). É ainda um pouco superior nas camadas de maior renda. Enquanto 76% dos que ganham até dois salários mínimos apontam crescimento da violência, essa parcela é cinco pontos percentuais maior nas demais faixas.

Uma parcela menor da população percebe piora do problema nas cidades onde moram, na comparação com o resto do país. São 56% os que apontam alta na violência em seus municípios, e 31% os que dizem que ela continua igual.

Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte
Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte

Para o cientista político Felipe Nunes, da Quaest e professor da UFMG, uma das razões da discrepância é a influência das experiências de outras pessoas, como vizinhos e parentes, do noticiário e das redes sociais. Os dados apontam que o diagnóstico entre os brasileiros é o de que a segurança é um desafio estrutural, acrescenta. A violência e o crime organizado só são vistos como problemas de determinadas regiões por 16% dos entrevistados:

— Está se consolidando a ideia de que o problema maior não é o pequeno furto ou assalto, mas a estrutura do crime organizado.

Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte
Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte

A pesquisa reforça essa tendência: nove em cada dez brasileiros acham que os criminosos atualmente estão “mais profissionais” e “preparados”.

Nas cidades, a avaliação de que a insegurança cresceu é maior entre as mulheres — 62% apontam alta no município onde moram, contra 49% dos homens. Também é mais expressiva entre quem foi assaltado várias vezes (64%).

Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte
Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte

Os últimos 11 meses foram marcados por crises de segurança na Bahia e no Rio. No estado governado pelo petista Jerônimo Rodrigues, houve 83 mortes em operações policiais de julho a setembro, de acordo com a Anistia Internacional. No Rio, governado por Cláudio Castro (PL), aliado de Bolsonaro, 30 ônibus foram queimados em outubro na capital após a morte de um miliciano em confronto com a polícia.

A escalada no Rio levou o governo Lula a intervir nos portos e aeroportos do estado e de São Paulo para combater o crime organizado. Recentemente, o ataque a um empresário durante um assalto em Copacabana ganhou projeção nacional.

A Amazônia, que também enfrenta a expansão do crime organizado, é outra frente de preocupação. As mortes violentas cresceram em 2022, na contramão dos dados nacionais, que contabilizam queda desde 2018, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No governo Bolsonaro, houve fortalecimento de atividades ilegais, como o garimpo e o desmatamento.

A pesquisa revela que os governadores do Sudeste têm a pior avaliação na área. Entre os entrevistados da região, 27% consideram o trabalho do chefe do Executivo estadual positivo. Esse percentual é de 35% na média nacional e chega a 50% no Norte do país.

Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte
Pesquisa da Quaest e UFMG mostra avaliação dos brasileiros sobre segurança pública — Foto: Editoria de Arte

A atuação do governo Lula divide os brasileiros: 43% acham que o presidente vai melhor que Bolsonaro no tema, e 43% consideram que o desempenho é pior. No Sudeste, os grupos ficam próximos: 44% veem um trabalho pior, e 39% melhor.

O pesquisador Jorge Alexandre Neves, do Centro Internacional de Gestão Pública e Desenvolvimento da UFMG e um dos coordenadores da pesquisa, avalia que o governo ainda não lançou uma proposta mais abrangente para o setor e tem dificuldades de comunicação. Os dados mostram que 69% não sabiam, por exemplo, sobre a intervenção nos portos e aeroportos, ainda que a ação seja aprovada por 88%. Mas ele vê oportunidades no apoio a ações preventivas:

— São políticas com caráter social que vão ao encontro da agenda do atual governo, como a redução da pobreza.