Para reduzir uso do plástico, 3M vai pesquisar óleos e fibras em Manaus

18 Maio 2024 | 4min de leitura

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Hardy, executivo de P&D da 3M: substituir o plástico na composição dos produtos — Foto: 3M/Divulgação
Hardy, executivo de P&D da 3M: substituir o plástico na composição dos produtos — Foto: 3M/Divulgação

A 3M, fabricante dos blocos de papel Post-it, das esponjas de lavar louça Scotch Brite, de fitas adesivas e de milhares de outros itens, está abrindo um centro de pesquisa e desenvolvimento em Manaus (AM). Vai estudar materiais poliméricos da região, para substituir os sintéticos, e pesquisar insumos como óleos e fibras naturais. Outro foco é a reciclagem desses materiais e sua incorporação em formulações de produtos.

A empresa já tem uma fábrica na região, onde produz fitas adesivas, materiais de segurança do trabalho e componentes para a indústria automotiva. Agora, investimentos serão feitos para melhorar a capacidade de reciclagem, reduzir o uso do plástico e estudar o uso de outros materiais reciclados no portfólio e em embalagens.

“O Brasil é um lugar ideal para fazer um investimento como esse por sua vocação histórica e foco em sustentabilidade. Tem uma grande variedade de materiais renováveis e recicláveis disponíveis localmente”, diz Cordell Hardy, vice-presidente sênior de operações corporativas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da 3M. O executivo esteve no fim de setembro no Brasil e falou ao Prática ESG.

O centro novo de P&D em Manaus terá um laboratório e ficará dentro da fábrica. Vai responder ao centro de inovação na sede da 3M, em Minnesota (EUA). A ideia da 3M, diz Hardy, é desenvolver materiais renováveis à base de óleos e fibras naturais, que possam ser incorporados em formulações de adesivos, fitas, sistemas de polimento, injeção de plástico e embalagens sustentáveis. Também busca desenvolver produtos que durem mais tempo, usando menos material, para evitar desperdícios.

“Temos o foco de eliminar o uso de plástico na composição dos produtos através da substituição por outros materiais, renováveis. Aqui [no Brasil] vocês têm acesso a uma vasta gama de materiais de base biológica, incluindo celulose, que pode ser usada para uma gama mais ampla de propósitos hoje do que tenhamos, talvez, usado no passado”, diz Hardy. A 3M atingiu, em 2022, 43% da meta de reduzir em 125 milhões de pounds (57 milhões de quilos) o plástico virgem de origem fóssil até 2025.

Brasil é lugar ideal por vocação histórica e foco em sustentabilidade” — Cordell Hardy

O objetivo, diz Hardy, é conseguir reduzir suas próprias emissões e entregar produtos sustentáveis aos clientes. A 3M se comprometeu, desde 2019, a incorporar no desenvolvimento de cada novo produto aspectos sustentáveis. Por ano, são cerca de 1.000 lançamentos e, quando a meta foi lançada, cerca de um terço da receita da companhia vinha de lançamentos dos cinco anos anteriores.

“Uma das principais áreas de pesquisa é a utilização de ativos biorrenováveis [matérias-primas de fontes renováveis] em materiais não-plásticos. Essa pode ser uma oportunidade no futuro”, diz Hardy. Em Manaus, a empresa quer firmar parcerias com cooperativas e organizações do segmento, e deve começar a contratar pessoas para o centro de pesquisa ainda em outubro. A ideia é ter entre cinco e dez pessoas dedicadas às atividades do centro no ano que vem.

A 3M em 2021 investiu US$ 1 bilhão para avançar nas metas de neutralidade de carbono (até 2050), redução de uso da água e aumento da sustentabilidade do portfólio de produto. Inclusive, foi no Brasil que a primeira embalagem com 100% de plástico reciclado da empresa foi produzida. A embalagem, feita com 100% de resina pós-consumo (PCR), foi lançada no mercado em 2022 e atualmente os frascos são utilizados para embalagem da linha de polimento da área automotiva da companhia no país.

As metas globais da 3M são: reduzir o desperdício de fabricação em mais 10%, em relação às vendas, até 2025, e chegar ao status de aterro zero em mais de 30% das plantas no mesmo período. Esta última foi atingida no ano passado. Todas as metas globais de sustentabilidade se desdobram em indicadores regionais.

A 3M não divulga o valor do investimento no centro de Manaus. Mas, anualmente, a empresa direciona entre 5% e 6% de seu faturamento para a área de pesquisa e desenvolvimento. “É um comprometimento global importante e o Brasil é um país representativo para o grupo”, diz Hardy. Das 7 mil pessoas, aproximadamente, que trabalham na área em todo o mundo, o Brasil tem cerca de 110.

Paulo Gandolfi, diretor de P&D da 3M na América Latina, diz que em Manaus o “foco será buscar especialistas em química, ciência, engenharia de materiais e áreas correlatas, com prévios conhecimentos em reciclagem e em fontes de materiais renováveis da Amazônia”.

A 3M estuda ainda trazer ao mercado brasileiro o Passive Radiative Cooling Film (PRCF), um produto que visa diminuir a absorção de luz e calor do sol ao mesmo tempo que resfria os objetos que reveste, uma evolução de outro produto do portfólio já vendido há décadas e que só reflete o calor. Gandolfi comenta que há a possibilidade de o produto ser também, em partes, fabricado no Brasil, em uma das duas fábricas no Estado de São Paulo, em Sumaré ou Itapetininga. “Temos ainda muitos elementos para decidir”, ressalva.

Também está prevista uma expansão do centro de reciclagem que já opera na fábrica de Manaus.