Inflação sobe 0,42% em janeiro, pressionada pela alta dos alimentos

Carolina Nalin 20 Maio 2024 | 5min de leitura

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Puxada por alimentos, a inflação avançou 0,42% em janeiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado nesta quinta-feira. A queda da gasolina foi o que ajudou a segurar o índice no mês, segundo o IBGE. Ainda assim, o resultado superou as previsões dos analistas, que esperavam alta em torno de 0,36%.

Em 12 meses, a inflação acumula alta de 4,51%. Para economistas, o resultado do IPCA em janeiro mostrou não só um número geral mais alto, como qualitativamente "ruim". O índice de difusão seguiu em 65% pelo segundo mês consecutivo e a média dos núcleos de inflação (que exclui itens voláteis) subiu em relação a dezembro.

De olho na inflação de serviços

A principal preocupação, contudo, se refere à inflação de serviços subjacentes, que voltou a subir em janeiro. O indicador - que exclui itens voláteis, como conta passagem aérea e alimentação fora do domicílio - é um dos pontos de atenção dos analistas, já que é analisado de perto pelos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.

A partir do dado, os diretores calculam o hiato do produto - distância entre o PIB efetivo e potencial -, o que ajuda na calibragem da taxa de juros básica da economia, a Selic. Analistas avaliam que o resultado não deve alterar o plano de voo já anunciado pelo BC de cortes de 50 pontos-base na taxa de juros. Mas deixa sinais de alerta para as próximas reuniões:

— A evolução do mercado trabalho e seus impactos sobre os preços de serviços serão insumos importantes para as futuras decisões da autoridade monetária — afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, lembra que os serviços subjacentes são uma espécie de "tendência" para a inflação futura, e que a inflação deste segmento já surpreende analistas pela quarta leitura seguida. Ela estima IPCA de 3,9% em 2024, considerando serviços ainda pressionados e alimentos mais caros como efeito do El Niño ainda maior do que o que tem se confirmado:

— Apesar da alta, alimentos no domicílio subiram menos que o esperado. Mas a parte de serviços joga pra cima a inflação. O pace (ritmo de corte de juros) está dado pelo Banco Central, mas o resultado do IPCA tira possível risco de aceleração (dos cortes). Além disso, os dados de atividades estão dando sinais de aceleração, com mercado de trabalho aquecido e efeitos do salário minimo. O BC está olhando tudo isso — afirma.

A inflação geral de serviços, segundo o IBGE, desacelerou de 0,60% em dezembro para 0,02% em janeiro. Mas não fosse a queda das passagens aéreas, o instituto calcula que o indicador teria tido alta de 0,45% em janeiro. No mês anterior, a alta foi de 0,60%.

Para Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, sobre IPCA, a inflação subjacente de serviços surge como um sinal amarelo para o curto prazo e reforça a postura mais cautelosa que o Banco Central vem adotando:

— Para quem antecipa uma taxa Selic terminal inferior a 9%, o IPCA de hoje deve jogar um pouco de água fria, já que 2024 começou com o pé esquerdo no front inflacionário. Mas o ano está apenas começando. A ver — diz.

El Niño afeta preços de alimentos; Grupo tem maior alta desde 2016

Na análise por grupo, Alimentação e bebidas exerceu o maior impacto sobre o índice no mês, assim como ocorreu no mês de dezembro. Segundo o IBGE, o aumento nos preços se deve principalmente à temperatura alta e às chuvas mais intensas em diversas regiões produtoras do país. É a maior alta de alimentação e bebidas para um mês de janeiro desde 2016 (2,28%).

— Historicamente, há uma alta dos alimentos nos meses de verão, em razão dos fatores climáticos, que afetam a produção, em especial, dos alimentos in natura, como os tubérculos, as raízes, as hortaliças e as frutas. Neste ano, isso foi intensificado pela presença do El Niño — explica o gerente da pesquisa, André Almeida.

A alimentação em casa ficou mais cara em janeiro, puxada por uma alta nos preços da cenoura (43,85%), da batata-inglesa (29,45%), do feijão-carioca (9,70%), do arroz (6,39%) e das frutas (5,07%).

Segundo Almeida, do IBGE, o arroz ficou mais caro por conta do clima adverso no país. Outro fator que explica o encarecimento do produto é o efeito climático que atingiu a Índia, maior produtor mundial de arroz. As exportações paralisaram no segundo semestre do ano passado, provocando aumento do preço do produto no mercado internacional.

Preços da gasolina e passagem aérea caem e seguram resultado

No campo negativo, o grupo Transportes foi o que mais ajudou a segurar a inflação no mês, com deflação de 0,65%. exceção do GNV, que subiu 5,86%, os preços dos combustíveis caíram no mês. Etanol e óleo diesel ficaram cerca de 1% mais baratos, enquanto o custo da gasolina caiu 0,31%.

— Como a gasolina é o subitem de maior peso individual no IPCA, essa queda de preços em janeiro ajudou a conter o resultado geral do índice — explica Almeida.

Depois de quatro meses em alta, as passagens aéreas recuaram 15,22% em janeiro. Apesar da retração, viajar de avião continua pesando no bolso do consumidor: os preços subiram 47% em 2023.

O grupo de Saúde e cuidados pessoais subiu 0,83% em janeiro, puxado pelo segmento de higiene pessoal, com altas em produtos para pele (2,64%) e perfume (1,46%). Outros itens de destaque foram o plano de saúde e os produtos farmacêuticos, cujos preços subiram cerca de 0,70%.

Já o grupo Habitação subiu 0,25%, puxado pelo aumento nos preços da taxa de água e esgoto e do gás encanado, enquanto a energia elétrica residencial teve queda.